Definição de Epistemologia do Sul (e Norte)
Miscelânea / / November 09, 2021
Definição conceitual
A Epistemologia do Sul é uma corrente teórica baseada principalmente na obra do sociólogo e filósofo Boaventura de Sousa Santos (1940), que propõe uma disputa de sentidos dentro da epistemologia clássica, entendida como profundamente "Eurocêntrico".
Treinamento de filosofia
A crítica de De Sousa Santos às epistemologias tradicionais - chamadas Epistemologias do Norte - concentra-se no fato de que Baseiam-se sistematicamente no que ele chama de “linha abissal” que separa as sociedades: as metrópoles das colônias. Por ser uma linha invisível, permite que essas epistemologias apresentem falsos universalismos, a partir da experiência da metrópole, apontando para o reprodução e justificação do dualismo normativo entre metrópole e colônia. A metrópole se torna a única fonte de conhecimento válido, enquanto o que está do outro lado da linha se torna o reino da ignorância.
Diferença entre a epistemologia do Norte e do Sul
A linha traçada, então, entre as sociedades, é "abismal" porque o conhecimento que permanece do outro lado da é ativamente produzido como inexistente pelo conhecimento que permanece do lado "nós" de a
Epistemologia do Norte. Assim, a Epistemologia do Norte produz ausências. Cabe esclarecer, nesse sentido, que a divisão entre Norte e Sul não atende a critérios estritamente geográficos. De Sousa Santos vai referir-se a um Norte Global, aquele que realizou os processos de conquista territorial sobre o Sul Global, entretanto, tanto no Norte quanto no Sul geográfico podem coexistir "Norte" e "Sul" epistemológico.A noção de "Sul" quando se fala de uma Epistemologia do Sul, está relacionada à ideia de uma resistência, dentro da epistemologia, contra a imposição de uma epistemologia universalista objetivista, que se afirma como o único meio válido para acessar uma verdade objetiva; mas que, ao mesmo tempo, se configurou historicamente em contextos concretos, a saber, a Modernidade Europeia.
Universalidade epistemológica como "epistemicídio"
Quanto maior o comprometimento do saber que é excluído pela versão hegemônica do "Conhecimento científico" com resistência contra essas mesmas exclusões abissais - causadas por a capitalismo, a colonialismo e patriarcado - maior será sua negação. Em outras palavras, a linha abissal prefigura um “epistemicídio”: a destruição do conhecimento que prevalece do outro lado da linha, uma vez traçada.
O resultado do epistemicídio ao longo da história colonial foi que as sociedades colonizadas foram incapazes de representam o mundo como seu e em seus próprios termos (e, portanto, transformá-lo de acordo com seus próprios interesses). Ou seja, a linha abissal produz um efeito ontológico, pois decide entre a existência ou não existência de mundos. Na raiz da diferença epistemológica existe uma diferença ontológica.
Na modernidade ocidental, a diferença ontológica resultou em uma separação entre uma humanidade e vários subelementos.humanidades. Assim, a ideia de racionalidade, atribuída exclusivamente a um determinado tipo de subjetividade (o homem branco, adulto, europeu, dono, falante das principais línguas), não só funciona como um limite entre as formas de saber, mas também permite a hierarquização das diferentes formas de produção de verdade e, uma vez estabelecida essa hierarquia, a imposição de uma verdade sobre a outra, a afirmação de um mundo que nega Outros mundos.
Epistemologia e história
Para De Sousa Santos, as Epistemologias do Norte contribuíram de forma decisiva na conversão do conhecimento científico desenvolvido no Norte global na forma hegemônica de representar o mundo como seu e transformá-lo de acordo com suas necessidades e aspirações. Assim, o conhecimento científico, aliado a um poder econômico e militar superior, garantiu ao Norte global o domínio imperial do mundo na era moderna até hoje.
Ao contrário do cânone epistemológico, o autor está interessado no inclusão dos problemas éticos, políticos, econômicos e sociais na reflexão epistemológica. Eram problemas que, para a tradição eurocêntrica, deveriam necessariamente ser deixados de fora desta reflexão.
Sociologia das ausências e sociologia das emergências
De acordo com o autor, então, não pode haver justiça social sem “justiça cognitiva global”. Portanto, o primeiro passo para a descolonização do conhecimento é identificar a "linha abissal", tanto epistemológica quanto politicamente. Este é o objetivo do que ele chama de “sociologia de ausências ”, que deve, em primeiro lugar, identificar aquela linha abissal e depois eliminar as“ exclusões abissais ”, por a partir de uma “sociologia das emergências” que traz à tona o conhecimento oculto pela Epistemologia da Norte. Ambos são ferramentas para construção de uma Epistemologia do Sul, capaz de ressignificar os saberes dos povos negados ao longo da história, ou seja, descolonizar os saberes.
Bibliografia consultada
DE SOUSA SANTOS, B. (2018) "Introdução às Epistemologias do Sul" em Epistemologias do Sul. Coimbra, CLACSO.
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