Definição de Ambiente Obesogênico
Teoria Das Cordas Trabalho Mecanico Ambiente Obesogênico / / April 07, 2023
Doutorado em Psicologia
O ambiente obesogênico é definido como o espaço social e estruturalmente construído que afeta o padrões de comportamento e que favorece o acúmulo de gordura corporal, ocasionando o desenvolvimento de sobrepeso ou obesidade.
Atualmente, o sobrepeso e a obesidade tornaram-se um problema de saúde pública que preocupa a população mundial. Nesse sentido, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que em todo o mundo cerca de um bilhão de pessoas vivem com uma das essas condições, e aproximadamente 2,7 milhões de pessoas morrem a cada ano como resultado de alguma complicação derivada de obesidade. Entre as possíveis complicações que a prevalência da obesidade pode desencadear estão as alterações metabólicas que levar a doenças como diabetes mellitus, dislipidemia, hipertensão arterial, acidentes cardiovasculares ou problemas hepáticos gordinho; distúrbios mecânicos como hipoventilação, apneia do sono, cardiomiopatia e insuficiência cardíaca e finalmente alterações psicossociais como depressão, ansiedade, alterações comportamentais e discriminação.
Com base nessas informações, é uma prioridade de saúde pública realizar estratégias para lidar com ela e reduzir sua prevalência. O modelo biomédico tradicional tem sido o principal quadro de referência para o desenvolvimento de estratégias, porém, tem recebido críticas por serem insuficientes, tendenciosas ou mesmo estigmatizante; porque reduz a obesidade a um estilo de vida pouco saudável no qual o indivíduo tem total responsabilidade. Dessa forma, surgiram propostas alternativas que buscam abordar o problema da obesidade em uma perspectiva multifatorial. Como parte dessas alternativas, surgiram diferentes variáveis envolvidas no desenvolvimento da obesidade, como o estigma do peso, a alimentação emocional e o ambiente obesogênico.
Características e termos associados
Swinburn o define como o ambiente social e estrutural que é construído e nutrido e que afeta os padrões de comportamentos que favorecem o acúmulo de gordura corporal e, consequentemente, o desenvolvimento de sobrepeso e obesidade. Em outras palavras, o ambiente obesogênico é o espaço onde um indivíduo reside e que, em combinação com normas de socialização e espaços físicos, favorecem que o comportamento seja orientado para aquele que possibilite o aumento de peso e gordura corporal, elementos que permitem classificar uma pessoa como com sobrepeso ou obesidade. Nesse sentido, a maior parte das pesquisas sobre ambiente obesogênico tende a se referir a aspectos estruturais do ambiente, como o espaço físico, disponibilidade de alimentos ou padrões alimentares, esses elementos podem estar intimamente relacionados ao nível socio-econômico; porque em várias ocasiões foi descrito que pessoas com baixo nível socioeconômico tendem a ter menos acesso a recursos que lhes permitem ter uma boa qualidade de vida. Nesse sentido, surgiu o conceito de desertos alimentares, que em palavras simples é definido como aquelas áreas onde é difícil o acesso aos alimentos saudáveis devido ao seu alto custo, ao mesmo tempo em que há grande facilidade de acesso a alimentos não saudáveis, como alimentos altamente processados e de baixo valor agregado nutritivo.
Como esperado, os desertos alimentares são especialmente abundantes em áreas de baixa renda. Além do exposto, essas áreas de baixa renda também se caracterizam por dificultar o desenvolvimento da atividade física. Foi descrito que essas áreas também carecem de áreas abertas ou espaços que permitam a prática de esportes ou atividades físicas como caminhadas; no entanto, essas áreas também carecem de áreas onde o trabalho possa ser feito, então seus moradores precisam fazer viagens extensas para chegar ao trabalho em transporte motorizado (por exemplo, público ou carro) favorecendo o estilo de vida sedentário Ao contrário, pessoas com altos recursos econômicos têm mais facilidade de acesso a alimentos nutritivos, praticam alguma atividade física e residir perto do local de trabalho, privilegiando os transportes ativos (e.g. usar a bicicleta ou andar).
Por fim, destaca-se também o papel de aspectos socioculturais como normas, crenças e valores associados à alimentação. Nesse sentido, Rozin afirma que a cultura é um fator determinante no consumo de determinados alimentos (por exemplo, algumas culturas preferem alimentos salgados a alimentos doces, enquanto outros consomem alimentos condimentados ou altamente condimentados em maior grau do que outros); eles também apontam que a comida é um elemento central em algumas práticas culturais. Desta forma, poderíamos pensar em alguns ditados como "a dor com pão é mais agradável" que favoreceriam práticas como a alimentação emocional, que estão associadas ao consumo de alimentos não saudáveis em excesso. No entanto, para a cultura latina, a comida é um elemento central; Pensemos que em todas as reuniões deve haver uma alimentação que vá além de lanches ou bebidas.
Como conclusão, pode-se dizer que o ambiente obesogênico é um elemento central para o desenvolvimento de políticas públicas e estratégias de intervenção para lidar com a obesidade, uma vez que este contexto é o grande responsável pela prevalência desta doença.
Referências
BRUNSTROM, J. m. & Cheon, B. K. (2018) Os humanos ainda se alimentam em um ambiente obesogênico? Mecanismos e implicações para a manutenção do peso. Physiology & Behavior, 193, 261-267.Rozin, P., Ruby, M. B., & Cohen, A. b. (2019). Comida e comer. Em D. Cohen & S. Kitayama (Eds.), Manual de psicologia cultural. (2º, pág. 447–478). Guilford Press.
SWINBURN, B. A., Sacks, G., Hall, K. D., McPherson, K., Finegood, D. T., Moodie, M. L., & Gortmaker, S. EU. (2011). A pandemia global de obesidade: moldada por fatores globais e ambientes locais. The Lancet, 378 (9793), 804-814.