Exemplo de jornalismo: crítica jornalística
Rascunho / / July 04, 2021
É comum que pessoas com pouca cultura pensem que criticar é apenas apontar qualidades negativas de algo. Críticas a costumes, política, esportes, religião, etc. são frequentes. Nada poderia estar mais longe da verdade.
Criticar não é censurar ou elogiar. Criticar é julgar, justificando porque algo é considerado bom ou mau. Não basta divergir do que é criticado, é preciso apresentar argumentos convincentes. Qualquer pessoa diz que gosta ou não das notícias mais recentes que leu.
Muito poucos, os verdadeiros críticos, apoiam razoavelmente seus pontos de vista.
O crítico, para ser digno desse nome, deve:
a) Reportar objetivamente, não alterar as criações de terceiros e interpretá-las com fidelidade.
b) Mostre suas opiniões, não arrisque julgamentos irrefletidos que não podem ser sustentados. Apoie qualquer reclamação.
c) Julgar com peso e justiça, não aceitando critérios parciais e subjetivos. Enfatize o positivo e reprove o negativo, de onde vier.
d) Escreva com agilidade, precisão e clareza, não pretenda impressionar com frases pedantes que dificultam a compreensão. Tente, na medida do possível, comunicar-se de forma eficaz com o maior número de leitores.
A crítica é literária quando trata de novidades bibliográficas; artística, se falar em exposições de pintura, escultura ou concertos musicais; e teatral ou cinematográfica, quando se trata de apresentações públicas.
Para Oscar Wilde, “O crítico está em relação à obra que critica, no mesmo estado da artista no que diz respeito ao mundo visível da forma e da cor ou ao mundo invisível da paixão e do sentimento. É uma criação dentro de outra criação. É o registro da própria alma. Para o crítico, os livros foram escritos e os quadros pintados. Trata-se da arte, não como expressão, mas como impressão. ”
Vou ilustrar, para dar corpo aos conceitos que acabo de citar, as várias críticas:
Francisco Zendejas, em 8 de dezembro de 1974, in Excelsior, crítica literária à obra O Constitucionalismo Social Mexicano, de Jorge Sayeg Helú.
"Constitucionalismo social mexicano, vols. I, II e III, de Jorge Sayeg Helú, trata de estudar o desenvolvimento de nosso país desde as suas origens até o fim da revolução armada, que se projetou na Constituição de 1917.
Um estudo desta natureza é importante, já que poucos são aqueles que, dando à história do México o necessário abordagem jurídico-social que se exige, foram publicados até hoje e, pelo que sabemos, nenhum deles trata de fazê-lo em um global. Também tem a virtude de ser, ao mesmo tempo, um extenso estudo da história constitucional do México até a expedição de nossa Carta Fundamental ainda em vigor, um quadro colorido dos aspectos parciais de cada uma das etapas mais relevantes do nosso história. Portanto, parece-nos que sua leitura interessará não apenas ao especialista em história do direito, mas também ao leitor comum, que se comoverá com muitas de suas passagens.
Quais ou quais foram os motivos que levaram Hidalgo e Morelos a lançar os mexicanos na Guerra da Independência? Por que isso, em seu início, mais do que um movimento político tendente a nos separar materialmente da Espanha, assumiu o caráter de uma verdadeira revolução social? Por que a época centralista pode ser considerada um estágio da anarquia? Como Juárez, com base na Constituição de 1857, conseguiu a consolidação da nacionalidade mexicana? Quais foram os prós e contras da etapa presidida por Porfirio Díaz? Por que nossa Revolução, em sua primeira fase, teve um conteúdo predominantemente político, e só mais tarde é que se manifestou na sua autêntica dimensão política e social ...
A essas questões, parece-nos, o trabalho de Sayeg Helú responde... ”
Encontro um exemplo de crítica artística teatral no que Antonio López Chavira escreve sobre a peça "Dois náufragos atrás do peixe", que apareceu em 4 de dezembro de 1974 na Excelsior:
Originalmente, esta peça de André Roussin - intitulada "The Little Hut" - era uma comédia bastante engraçada cujas intenções, participantes de um feminismo incipiente, tornaram-se populares graças à versão cinematográfica estrelada por Ava Gardner em Hollywood.
Agora, apresentado no México com o nome de "Dois náufragos depois do peixe", tornou-se uma tentativa de algo que finge se passar por "vaudeville familiar", e que nem chega ao patamar qualitativo de uma piada carro-mas. Embora a ideia de estabelecê-la no México possa ter rendido pelo menos uma experiência interessante (devido ao seu tratamento do adultério), a direção de Alberto Rojas, que se insinua nesta encenação, anulou completamente seus efeitos e até mesmo seu caráter de peça. teatral.
Num palco tão pequeno, como o do Teatio de la República, montado pelos bem realizados, mas espetacular, cenografia de Hugo Maclas, o movimento cênico é reduzido a um monótono e mínimo expressão. A falta de naturalidade nas atitudes e diálogos, assim como as atuações rígidas e esquemáticas, provocam na plateia um tédio quase comparável àquele que Os protagonistas demonstram, brevemente interrompidos pelos comentários oportunos de Evita Muñoz "Chachita", que faz todo o possível para colocar a empresa à tona, em vão.
Alfonso Zayas e Alberto Rojas, nos papéis de marido e amante, são completamente desprovidos de graça e perdem uma veia humorística que poderia ter salvado os maus em suas atuações. Jorge Ortiz de Pinedo, em seu personagem de canibal-cozinheiro-Veracruz náufrago, laboriosamente mantém a ilogicidade de sua personagem, pré-fabricado de tal forma que se enquadre perfeitamente na série de adaptações ao texto original, elaboradas por meio de piadas gastas e uma mentalidade quase burocrática devido à sua falta de humor, que transformaram "A Barraca" neste insustentável porcaria. "
García Riera oferece-nos um excelente exemplo de crítica cinematográfica.
Transcrevo abaixo o que escreveu sobre o filme Ludwig de Luchino Visconti, que estreou na Excelsior em 4 de dezembro de 1974.
“Como se as desgraças que se abateram sobre o monarca bávaro do século 19, cuja história Luchino Visconti conta, não fossem suficientes em um filme suntuoso, belo e curiosamente contido, eis que foi exibido na Mostra sob o título de A Paixão de um Rei. Sinceramente, me parece justo esquecer essa nova fantasia dos distribuidores e manter o bom título original do filme que é simplesmente de Ludwig.
A contenção de Visconti, que alguns podem interpretar como frieza, pode ser um resultado paradoxal, como em tantos casos, do sentimento de afinidade. Aquele comovente Rei Luís da Baviera. que queria governar a favor do espírito, da arte, e de costas para as demandas políticas e sociais de seu tempo, que odiava Munique, a capital de seu estado, e preferia viver nos castelos malucos construídos por ele mesmo, ele era de uma linha muito reconhecível para o diretor de Senso e II Gattopardo. Visconti tem sido um dos melhores cronistas do século XIX no cinema, por sua clara compreensão do embate entre o espírito romântico e o desenvolvimento da história europeia. A visão daquela colisão dramática que deu substância dialética a tantos personagens viscontianos é atenuada em Ludwig pelo simples fato: se a câmera persegue insistentemente a um rei desequilibrado (neurótico, diríamos agora), moribundo e esteta (sublimador, dir-se-ia agora), pouco ou quase nenhum sinal do tempo, do meio social com o qual ele colidiu.
É de se perguntar se Visconti não teve a modéstia de evitar ver mais do contexto em que Ludwig atuou do que o próprio rei. Por isso falou em afinidade: é desta forma que manifestou o amor do cineasta pela sua personagem, que explica sua recusa em ridicularizá-lo pelo mero contraste com o mundo real para o qual ele era tão estranho monarca. O que o filme nos diz - e nos conta de uma forma muito justa e inspirada - é que Ludwig só viveu em um mundo, o mundo de suas obsessões, quase totalmente isolado do outro. O fato de um homem capaz de se manter nesse tipo de ambiente intra-uterino ser ao mesmo tempo um rei, por simples acaso dinástico, dá uma noção suficiente de sua tragédia. (Quanto ao resto, é claramente significativo, nessa ordem, que Ludwig admirava profundamente Wagner e ao mesmo tempo não suportava ver no compositor a uma pessoa de carne e osso e que o mesmo lhe aconteceu com a princesa Sofia, com Isabel da Áustria ou com um ator, como se pode ver no arco de cabelo.)
A Paixão de um Rei (Ludwig), filme italiano, a cores de Luchino Visconti, sobre uma discussão sua, de Enrico Medioli e Suso Cecchi d'Amico, com Helmut Berger, Romy Schneider, Trevor Howard, Silvana Mangano, Gert Frobe. (Ugo Santalucía. 1972. V