Conceito em Definição ABC
Miscelânea / / July 04, 2021
Por Guillem Alsina González, em outubro 2018
O chamado clickbait (e que em espanhol poderíamos traduzir como "isca para obter cliques") é uma prática consistente em compõem a manchete de uma notícia de forma a induzir quem a lê a entrar no conteúdo para lê-la tudo. Compreende, juntamente com as notícias falsas, um dos dois fenômenos fortemente relacionados à informação e à atualidade no que, paradoxalmente, se denomina “era da informação”.
Seria, em linhas gerais, como uma transliteração do amarelecimento jornalístico (economizando as distâncias) para Internet.
Entre as técnicas utilizadas pelos sites que utilizam este método manipulação, encontramos o exagero, brincando com a morbidez do leitor (em várias áreas e não só no sexual, que também), o mistério que permite vislumbrar a manchete, como se apenas lendo o conteúdo pudéssemos acessar informações privilegiadas e certos medos atávico.
Geralmente, depois de ler a “notícia” (que muitas vezes não é assim) que foi acessada clicando em “isca”, o leitor fica decepcionado.
Nessa técnica de obtenção de visitas, um bom título que seja potente e atraente e induza um clique para acessar o conteúdo, é o que mais importa. No final, o que se busca é “vender” conteúdo irrelevante a um preço de ouro, para dar-lhe uma preeminência mais proeminente do que deveria.
Funciona por diversos fatores, tanto pela parte das técnicas de redação de manchetes, quanto pelo baixo nível educacional ser consumidor do conteúdo que muitos internautas possuem.
A verdade é que muitos de nós (e quem escreve estas linhas não é exceção por ter caído nisso alguma vez, embora eu tente ser seletivo com o que que li) não fomos educados para selecionar o que queremos consumir hoje, caindo facilmente nas redes de TV e lixo clickbait.
Porque, afinal, se antes eu comparei essa prática com o amarelecimento jornalístico, a transposição desse O amarillismo da mídia escrita ao audiovisual leva à TV lixo, da qual o clickbait é frequente herdeiro direto.
E não é porque necessariamente um clique em uma manchete nos leva a uma notícia totalmente e absolutamente irrelevante, mas sua real relevância em comparação com o que o dono nos vende é muito diferente.
Um recurso amplamente utilizado consiste em recorrer à frase “o que aconteceu a seguir irá surpreendê-lo para completar o título.
Esta frase é como um compêndio do filosofia clickbait: gera no leitor uma reação de necessidade de acesso ao conteúdo.
Porque, vamos imaginar qualquer título minimamente espetacular com este slogan; Por exemplo, vamos imaginar que em um dia chuvoso, alguém grava com seu smartphone o vídeo de uma mulher sendo arrastada devido ao escoamento de água em uma rua como resultado de um ralo entupido, que acaba colidindo com um carro estacionado. Não há nada de curioso aqui além do notável, certo?
Na verdade, se eu fosse um jornalista e me passassem uma nota contando este acontecimento, duvido muito que o publicasse. Agora, no entanto, vamos fazer um exercício de indução de cliques e escrever um título para tornar esta “notícia” atraente para um clique fácil:
Ele quase se matou! uma mulher é empurrada pela chuva, e o que aconteceu a seguir, você ficará surpreso!
Bem, para ser sincero: lendo a manchete, você não ficaria curioso para saber o que aconteceu com essa pobre mulher?
Certamente, ao ler as "notícias", você se perguntaria como justificaria o título. Bem, talvez, terminando dizendo que ela teve sorte de o carro estar estacionado e não em movimento, Eu tenho isso resolvido.
Irritante, certo? Foi-lhe vendida uma manchete que não corresponde ao corpo da notícia. Bem, é claro, corresponde à essência do que aconteceu (uma mulher é arrastada pelo chuva; se você não está surpreso com o que aconteceu a seguir... bem, nem todos ficam surpresos com o mesmo).
Justificado? De forma alguma, mas a mídia que usa clickbait certamente o verá como justificado.
Clickbait costuma usar eventos grotescos ou humorísticos, anedotas simples que só dariam para um vídeo engraçado postado no YouTube, e para quem o escreve se torna algo pseudo-notícia.
Na verdade, em muitos casos, o que estamos lendo se baseia justamente nesses vídeos postados no YouTube, ou em anedotas reais cujo escopo do título é exagerado.
Outra técnica comumente usada em clickbait é fazer listas que incluem, por exemplo, uma foto para cada item, colocando cada foto em uma página diferente, com links entre si.
Desta forma, e embora o internauta não percorra toda a lista, o meio obtém mais visualizações de página.
Um exemplo seria O antes e o depois dos 10 atores e atrizes de Hollywood que se submeteram a cirurgia plástica. Aqui o conteúdo não engana, é o que vende e, de facto, esta lista pode conter mais de uma dezena de exemplos, é algo que não importa ou que até beneficia.
Nesse caso, anexar ao título a foto mais marcante que só será apresentada como o último item da lista é uma tática comum para obter ainda mais visualizações de página.
O leitor inicia a visita à lista pensando que logo verá aquele conteúdo que o título parecia lhe prometer, mas depois de 20 ou 30 páginas de olhar para outras fotos, ele percebe que o conteúdo que parece ser prometido está muito escondido, e que será difícil alcançá-lo.
Qual é o objetivo final do clickbait? Receba visitas, mas para quê? Para obter receita de publicidade por sua vez.
Quanto maior o número de visualizações de página, uma mídia pode vender melhor seu espaço publicitário simplesmente mostrando seus números, e pode obter mais renda por cliques em propaganda pois aumenta as chances de um leitor clicar em um dos anúncios exibidos em suas páginas.
Pretende-se também que os leitores compartilhem esse conteúdo nas redes sociais, portanto, em alguns casos até os induzem a clicar em um elemento que os compartilha, mesmo se Facebook acabou com essas práticas.
Para promover esse conteúdo indutor de cliques, as partes inferiores das páginas da web são frequentemente usadas, que vinculam a alguns conteúdos desse tipo.
Fotos do Fotolia: Faithie / Duris Guillaume
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