Conceito na Definição ABC
Miscelânea / / August 26, 2022
Professor de Filosofia
O conceito de habitus —Termo latino que expressa a ideia de “modo de ser”, “atitude”, “disposição”— foi desenvolvido pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002), ocupando um papel central em sua teoria. A noção de habitus não é equivalente ao que queremos dizer com hábito na linguagem cotidiana, mas compreende um conjunto de princípios que estruturam nossas formas de perceber, valorizar e agir, que adquirimos e reproduzimos pelo simples fato de pertencer a um grupo Social. São princípios estruturais que geram disposições, hábitos, modos de sentir, em virtude da quais pessoas que pertencem ao mesmo espaço social irão agir de forma semelhante em situações semelhante.
Bourdieu desenvolve a noção de habitus explicar os rituais por meio dos quais os casamentos eram formados em uma sociedade dado, apontando que puderam ser observadas estratégias compartilhadas que se repetiram entre os casos singular. Tais estratégias não se limitavam a normas explícitas de acasalamento, mas respondiam a comportamentos implicitamente aceitos.
o habitus como estrutura
o habitus aparece como um conjunto de princípios estruturantes da percepção e do conduta de indivíduos dentro de um determinado grupo social, como regem tais ações. São, nesse sentido, os “paradigmas” que ordenam as práticas sociais e os significados que elas adquirem no espaço social. Esses princípios são incorporados aos esquemas mentais e às disposições corporais por meio da socialização dos indivíduos, desde a infância. Conseqüentemente, constituem um conhecimento tácito, que não é mediado pela consciência do indivíduo, mas funciona como um "automatismo" prático.
Não existe um único habitus homogêneo para toda uma sociedade, mas sim, quando se fala em habitus, faz-se referência ao ajuste entre as condições materiais de existência dos sujeitos — associadas à sua posição nas classes sociais, de acordo com o recursos econômicos acessível; bem como sua inserção nas instituições sociais – e um sistema de disposições, práticas e representações simbólicas que reafirmam o pertencimento de tais sujeitos ao grupo social definidos por essas condições. o habitus, como estrutura estruturante, tem caráter objetivo; ou seja, não é subjetiva, pois não depende de cada indivíduo e de suas decisões conscientes, mas é o que determina o campo de decisões possíveis para aquele indivíduo.
Como um sistema objetivo, a existência do habitus transcende sujeitos isolados, razão pela qual Bourdieu o caracteriza como "durável" e, por sua vez, "transferível", seja porque um indivíduo manifesta o mesmo habitus em campos intercambiáveis (por exemplo, em seus gostos gastronômicos, seus gostos musicais, suas atividades de lazer etc.), ou porque reproduz isso habitus transferindo-o para outros em casos de socialização (como criação de filhos ou Educação institucionais).
Por exemplo, ele habitus de uma pessoa pertencente às classes altas de uma sociedade determinará seu consumo cultural (que tipo de música ouvirá, que obras verá teatro), seus modos de vestir, falar, seus gestos e outros; que, provavelmente, não coincidirão com as de uma pessoa pertencente a um grupo social marginalizado. Assim, tomando outro exemplo, verifica-se estatisticamente que, comparado a um desempenho acadêmico semelhante, o famílias de classe baixa têm mais dificuldade para seus filhos acessarem e permanecerem em a sistema educativo formal.
Por um lado, o conjunto de disposições e práticas sociais depende do pertencimento a determinado grupo e, por outro, o reafirma. No mesmo sentido, a objetividade do habitus reflete que não se trata de um mandato expresso ao qual se deve obediência, por exemplo, não se trata de uma ordem que possa ser emanada do poder político; ao contrário, é produzido coletivamente, como resultado de afinidades eletivas entre os membros de um grupo.
habitus e bom senso
Outra maneira de se referir a habitus é através da noção de senso comum, ou seja, o sentido que regula as reações socialmente esperadas em determinada situação, bem como as opiniões públicas. Observe que essa dimensão do habitus faz dela um substrato para o exercício da dominação, pois funciona como fundamento para a legitimidade do poder, que é ensinado "pedagogicamente" desde a socialização primária. Dessa forma, torna-se possível a perpetuação de mecanismos arbitrários no exercício do comando social e político. Em contrapartida, a modificação das condições sociais implica uma transformação do habitus.